04 de março de 2012
FERNANDO ZILVETI
ESPECIAL PARA A FOLHA
A disputa entre Estados brasileiros por contribuintes investidores acirrou-se nos últimos anos. A Federação brasileira e seu mercado se tornaram praças de guerra, palcos de medidas normativas desencontradas. Nesse teatro político encontramos espectadores pagantes e não pagantes. Nos camarotes blindados se encontram os não pagantes, os ministros do STF, que a tudo assistem impávidos.
Na incômoda plateia estão os pagantes, os contribuintes brasileiros que pouco entendem sobre o que se passa. Os países organizados republicanamente em federações têm histórico de desentendimentos competitivos entre seus entes federados. Não há federação fiscalmente uniforme, porque é da autonomia de Estados e municípios determinar os tributos sob sua competência. A federação alemã, conhecida por seu rigor fiscal, há muito tempo tratou de federalizar os impostos sobre o consumo. Nem por isso desapareceram os conflitos entre seus Estados e comunas.
É o caso dos impostos comunais sobre o consumo de entretenimento. A corte tem reprimido os abusos. Nos EUA não se encontra registro da expressão "guerra fiscal". Nem por isso a tensão entre os Estados tributantes deixa de existir.
O comércio eletrônico tem protagonizado disputas entre os Estados americanos e as empresas. A Suprema Corte está sendo acionada para pôr fim nessa disputa. No Brasil, a superposição de tributos sobre mesmas riquezas levou a Constituição de 1988 a descrever competências tributárias, denominando os impostos um a um. No que diz respeito ao ICMS, o convênio 66/88 entre os Estados procurou na unanimidade uma solução para a falta de consenso.
Com efeito, tão logo foi criado o malfadado convênio, ato contínuo se deu o descumprimento sistemático por parte dos Estados que se julgaram prejudicados. Por diversas vezes o Supremo Tribunal Federal foi chamado a resolver a questão. Decide sem resolver. Alega falta de remédios constitucionais adequados. A ação de descumprimento de preceito fundamental poderia solucionar. Por que, então, ninguém propõe tal medida?
A desobediência pública da Constituição seria, afinal, problema ou tensão comum das federações? A questão, enfim, não está na desobediência pública. Está na corte que não cumpre seu papel de guardiã da Constituição.
FERNANDO ZILVETI é livre-docente pela Faculdade de Direito da USP e professor de finanças da EAESP-FGV.
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